terça-feira, 7 de junho de 2011

"Que horas eu respiro mesmo?" - A Respiração em Pilates

Oi pessoal!

Recebi um e-mail de um seguidor nosso aqui do blog com uma série de pensamentos, dúvidas, comparações entre as diversas formas dos cursos de Pilates abordar o tema Respiração.
Ele queria saber minha forma de trabalhar e abordar o assunto. Comecei a responder o e-mail e logo lembrei de vocês! Pensei que, com certeza, seria uma temática interessante para compartilharmos e trocarmos nossas experiências sobre ela.

Vamos lá!
De maneira geral, no meu ponto de vista e prática, obviamente embasados por cursos (especialmente o da Physio Pilates) e literaturas ( Blandine , Souchard, entre outros), mais o longo tempo de prática, a coisa mais importante que podemos estimular no aluno é que sua Respiração seja tranqüila, silenciosa, fluida, suave, relaxada e tridimensional.

Como assim ?
Tridimensional quer dizer, que utilize todos os diâmetros respiratórios, mobilizando toda a caixa torácica com suas articulações esternocostais, esternovertebrais, musculatura intercostal, diafragma, etc. E que seja uma respiração relaxada, tranqüila, que valorize a expiração, colocando para fora ar “velho”. Pilates dizia que devemos respirar como se estivéssemos andando na rua, de forma natural.

Desta forma, exceto em casos muito específicos, eu sugiro para o aluno que respire naturalmente, inspirando suavemente pelo nariz e expirando longamente pela boca.

Sinto que, muitas vezes, o aluno deseja uma orientação e pergunta: “Que horas eu respiro?”
Nestes momentos, muitas vezes nossa tendência é querer definir uma respiração, o que não está errado, mas pode ser que existam outras prioridades naquele momento. Pense, por exemplo, numa aluno recém chegado que vai para a Reformer fazer um foot work. O que eu mais quero dele, neste momento, é que sinta o apoio de seu corpo no carrinho, os três pontos de alinhamento de seu tronco e coluna neutra – sacro, caixa torácica e crânio – e que faça as flexões e extensões de quadris e joelhos dissociando o quadril, deixando realmente o fêmur cavar na bacia. Esse é o foco de atenção que eu quero dar inicialmente – e já é bastante coisa para prestar atenção.


Nesse caso, pode-se pedir, por exemplo, que ele coloque um ritmo na respiração, inspirando numa parte do movimento e expirando na outra. Ele está numa cadeia fechada, com as pernas levemente acima do tronco, não existe risco de alavancas na coluna, a respiração não é um elemento fundamental nessa hora, pelo menos não nesse momento!

Quando paramos apenas para inspirar, acabamos parando para tudo e perdemos um dos grandes princípios de Pilates que é a fluidez de movimento.

A Physio Pilates observa que a inspiração facilita a extensão até pela expansão das costelas e elevação do esterno, o que já é um caminho para a articulação das vértebras em extensão.
Por outro lado, a expiração facilitaria a flexão, pela tendência oposta, amaciando o esterno enquanto o ar sai e o pulmão esvazia, convidando o corpo a flexionar.

Isso é uma tendência e pode ser utilizada circunstancialmente, mas não necessariamente.
Um exemplo: Recebemos um aluno com a coluna torácica retificada, a musculatura dorsal empurrando as costelas e esterno para frente, as costelas bastante rígidas e com aquele aspecto “aberto”.

Vamos trabalhando o centro com o aluno, estabilizando a coluna e dissociando os membros e, ao mesmo tempo, mobilizando a coluna. Propomos alguns movimentos do repertório de flexão – spine strech forward, roll down series – e o convidamos a expirar durante as flexões, ok!
Mas quando formos fazer as primeiras extensões, devemos considerar que ele já tem um padrão de retificação, ou seja, que suas vértebras torácicas que deveriam estar organizadas numa cifose, já estão desorganizadas, com sua musculatura hiperativada levando o aluno a uma certa extensão. Será que a inspiração, que acentua este padrão, será uma boa estratégia?

Num caso como esse, que é bastante comum, eu prefiro indicar uma expiração que permita que o centro fique mais bem organizado enquanto a mobilização é feita.

Outro exemplo considerando ainda que, como dissemos antes, a expiração facilita a flexão: quando estamos fazendo um exercício de dissociação de membros com a coluna neutra em decúbito dorsal.

Levar os braços para trás, flexionando os ombros, estimula a extensão da coluna. Desta forma, podemos sugerir uma expiração durante esta fase do movimento, para facilitar ao aluno a manutenção da relação das costelas com a pelve através da ativação da musculatura abdominal e conseqüente manutenção da coluna neutra. Desta forma ele fará um movimento no caminho da flexão, do tamanho justo para evitar a extensão.





O mesmo caso com os membros inferiores. Imagine a volta do movimento num fêmur arcs (arcos de fêmur), quando a perna alongada volta para o centro, flexionando o quadril, a tendência é que a coluna seja arrastada entrando também em flexão. Neste momento podemos sugerir uma inspiração e certo afrouxamento do abdome para que os eretores espinhais entrem em ação garantindo a neutralidade da pelve, manutenção da coluna neutra e da lordose lombar e facilitando assim a dissociação na articulação dos quadris.







Nos dois casos acima, se estivermos falando de um aluno mais avançado num movimento como, por exemplo, uma bicicleta dupla, que afasta simultaneamente braços e pernas do centro, inspirar durante esse aumento de alavanca pode ser um desafio extra. Para um iniciante, na certa indicaríamos uma expiração para garantir uma ativação mais eficiente de uma musculatura que ainda não está forte ou organizada o suficiente.





O que queremos dizer aqui é que a Respiração é um elemento que pode ser utilizado de diversas maneiras conforme o aluno e a situação proposta. O objetivo, de qualquer forma, é que, pouco a pouco, não precisemos mais pensar nela, que fique naturalmente eficiente de forma involuntária.
Vale lembrar que movimentar os ossos e músculos envolvidos na Respiração desperta a consciência da caixa torácica facilitando o encontro da eficiência neste aspecto.



Flexões laterais com ênfase na região torácica, exercícios utilizando a theraband como referência proprioceptiva ao redor das costelas, pensar em respirar expandindo a parte posterior das costelas, respirar apenas movimentando as vísceras (respiração diafragmática), deitar de lado com uma bola sob as costelas e sentir a expansão lateral das costelas de cima, são estratégias para estimular a consciência da caixa torácica e uma respiração mais eficiente.



Finalizando com Souchard: “ O princípio fundamental é deslocar o indivíduo no sentido da expiração, fazendo relaxar os músculos inspiratórios.” E “Se deverá obter uma expiração cada vez mais profunda graças ao relaxamento progressivo dos inspiratórios. O termo consagrado, sempre empregado durante as sessões de reeducação, será “Suspiro cada vez mais amplo e relaxado!” “



E. Souchard, RESPIRAÇÃO, Summus Editorial

15 comentários:

nada de nome disse...

Muito bacana!
Sempre apredendemos mais e mais com você, Silvia Gomes.

Priscila disse...

Excelente!
Muito obrigada pelas suas palavras e por enriquecer sempre nossa experiência com este metodo maravilhoso!
Priscila Wiggers
Artpilates

Personal Ligia Coelho disse...

Olá!
gostei das observações.
Boa explicação.
Abraços,
Ligia Coelho

Silvia Gomes disse...

Laura, Priscila e Lígia, obrigada a vocês pela participação e presença no blog. Sintam-se a vontade também para compartilhar suas idéias e experiências sobre o assunto para que possamos crescer juntas! Beijos, Silvia.

Anônimo disse...

Caraca eu simplesmente respiro errado rsrs, sempre faço aquele esqueminha: inspira parada e expira realizando o movimento, além de parar para respirar ao realizar cada movimento. Silvia minha filha preciso de vc!!!!!!!

Silvia Gomes disse...

Oi Anônima... fique tranquila! Não tem certo e errado, são formas diversas de respirar e sempre é bom variar e experimentar opções diversas. O que vale a pena prestar atenção, seja qual for a estratégia escolhida, é procurar fazer uma respiração suave, breve e uma expiração longa e tranquila. Respirar é um ato contínuo e natural, vamos preservá-lo - ou resgatá-lo - desta forma. É isso aí! beijos eobrigada por participar!!

nada de nome disse...

No início da prática do Pilates pelo aluno/paciente, percebo dificuldades na respiração. Nesse caso, tento frisar que simplesmente respire, isto é, que não execute o exercício em apneia (acontecem casos assim se o instrutor não presta atenção) e aí devagar vou corrigindo.
Ao meu ver, não existe respiração certa ou errada. Existe respiração para cada caso.

Silvia Gomes disse...

Oi Laura, tô contigo: respiração é um elemento que pode ser utiizado de diversas formas conforme o caso. De qualquer forma vale lembrar que queremos que ela facilite a organização e promova bem estar! Beijos!

Renata Batista disse...

Oi Mestre! Salve, salve! Bom, só posso dizer que depois que conheci a Silvia, e comecei a estudar e acompanha-lá minha neura com esse lance de respiração acabou! E a dos meus alunos também! O lance, é como ela já disse não tem certo nem o errado! Complemento... é o que é eficiente, natural... Eu penso nisso quase diariamente, sempre o aluno pergunta: qd eu respiro? E nunca sou direta na resposta... antes oriento a relaxar, sentir o corpo, o movimento, e sentir a respiração! Como A Sílvia explica sempre, dá super certo! Sempre tem as exceções, em alguns exercícios, que eu necessito mais estabilização, dou enfase na orientação da expiração, qd ativar! saudades bjs!

Silvia Gomes disse...

Oi Renatinha... continua sendo por aí mesmo.... rsrsrs Beijos!!

Ana Paula Milhomem e Karla Xavier disse...

Muito bacana , Silvia! Muitas vezes nos preocupamos tanto com o momento que o aluno deve respirar, que deixamos que eles percam o grande barato do método, como vc disse: a fluidez do movimento! Em junho estaremos juntas no seu curso de Pilates para gestantes! Um abraço e parabéns pelo blog, pelas idéias e ensinamentos! Ana Paula e Karla

Shirley Marinho disse...

Oi Silvia que saudades!!! Adorei a "conversa" sobre o tema respiração e gostaria de compartilhar um pensamento... o que sempre observo é que quando um cliente iniciante pergunta "em que ora respiro" vem uma carga emocional muito grande que na verdade parece que ele está dizendo... "sempre respirei assim será que tem jeito?" E o fato de se impor um tipo de respiração em alguns momentos pode ser até uma violência... ele sempre fez aquele padrão ou no momento pela ansiedade de apreender desorganizou esse padrão... o fato é que realmente não existe certo ou errado, devemos estar aberto as possibilidades e com o olhar atento ao contexto. Existe o momento, o exercício, a proposta do instrutor e principalmente o ser que está lá para usufruir e conhecer seu corpo e a si próprio...
Bjosss
Shirley Marinho.

Silvia Gomes disse...

Oi Ana e karla, prazer tê-las por aqui! Beijos

Silvia Gomes disse...

Oi Shi, saudades também.. é isso aí! O objetivo é desenvolver a percepção sobre o próprio corpo para utilizar apenas o necessário e o mínimo possível. beijo!

Luana disse...

Silvia, você é demais! Fiquei triste ,pois não consegui me organizar para participar do teu curso em Balneário. Mas a minha meta para 2013 é ir aonde quer que você esteja !hehehe.

Um beijão querida

Minha foto
Sampa, SP, Brazil
Mulher, mãe, professora de Ed. Física, instrutora de Pilates, uma apaixonada pelo movimento: o meu, o seu, o de todos nós, o de todas as coisas..